Veleiro de quilha, de bolina ou de patilhão? Como escolher?

Veleiro de quilha, de bolina ou de patilhão? Como escolher?

Na dúvida entre um veleiro de quilha fixa, de bolina retrátil ou de patilhão? Como saber qual é o mais adequado? Como escolher o melhor veleiro?

Há dois anos publicamos em nosso canal um vídeo explicando as diferenças entre os diferentes tipos de quilha de veleiros: Quilha fixa, bolina retrátil ou quilha fixa de patilhão. Cada uma delas tem suas características, vantagens, desvantagens e aplicação. Você pode assistir o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=i-nb6FIfU8s.

Primeiro é preciso lembrar que todos os veleiros devem ter uma peça sob a água, capaz de oferecer resistência ao deslizamento lateral da embarcação, quando ela navega com vento de través ou contrário. Isto porque, em orça ou través, a força lateral que o vento exerce é muito elevada, e tende a fazer o barco escorregar lateralmente, ao invés de manter um curso à frente. A peça que exerce esta força é a quilha. Existem vários tipos de quilha, e a nomenclatura é um pouco confusa, mas fica fácil de compreender se fizermos uma rápida retrospectiva histórica.

Quilha, originalmente, é a peça estrutural que corre sob a embarcação, a “coluna vertebral” do barco, onde são presas as cavernas (isso falando de barcos de madeira de construção tradicional), a “espinha de peixe” que segura as tábuas do casco. A quilha, além de ser este elemento estrutural, também servia para evitar a deriva lateral (o escorregamento a que nos referimos acima), pois era uma peça grande de madeira. As baleeiras , os barcos de pesca de madeira, e as caravelas e galeões antigos, todos tem quilhas bem protuberantes sob o casco.

A evolução dos veleiros levou a cascos mais leves, com maior área vélica e maior tendência a deriva lateral. As quilhas começaram a ficar mais profundas, correndo de popa a proa da embarcação. Estas quilhas receberam também o nome de patilhão. Mas a partir dos anos 30 do século XX, este patilhão começou a ser encolhido cada vez mais, para reduzir a área submersa e assim reduzir o arrasto, e ganhou profundidade para aumentar a eficiência do lastro. A quilha, que antes tinha função somente estrutural e de controle da embarcação, passou a ser também um elemento de estabilidade estática. Assim nasceram as quilhas modernas dos veleiros atuais.

O Peregrino 190 é um 19 pés muito espaçoso, marinheiro, estável, e que no entanto pode encalhar na praia para desembarque, dispensando a função de usar um bote de apoio, algo pouco prático em um veleiro pequeno.

Mas muito antes disso, já existiam barcos que precisavam navegar em águas rasas, a vela, e por isso tinham bolinas retráteis, montadas em caixas estanques dentro do casco, ou penduradas lateralmente no casco. Os catboats, barcos que nasceram no século XVIII, já tinham bolina retrátil, basculante. Esta bolina não tinha função de melhorar a estabilidade, somente dar controle direcional. É o mesmo princípio das bolinas rettráteis dos monotipos como Laser e Dingue.

Hoje, nos veleiros modernos, também é relativamente comum usar quilhas fixas longas e de baixo calado, para facilitar a navegação em águas rasas, e ainda ter a eficiência de um lastro abaixo do casco para oferecer maior estabilidade estática. A este tipo de quilha fixa também chamamos de patilhão.

Cada um destes tipos de sistema de controle direcional tem suas aplicações específicas. São elas:

  • Quilha fixa: oferece maior estabilidade estática em grandes ângulos de adernamento. É indicada para veleiros de oceano, que precisam se recuperar sozinhos de um eventual emborcamento. Também é recomendada em veleiros de regata, pois a maior estabilidade permite envergar maior área vélica. Sua maior desvantagem é o calado elevado, que dificulta a ancoragem, impede navegação em áreas rasas, e exige em geral que o barco fique na água, pois em geral é impossível ou inviável rebocá-lo ou tirar da água após o uso, a não ser que se tenha acesso a uma marina com carretas de encalhe apropriadas e equipamento capaz de içar a embarcação.
  • Quilha de patilhão: oferece um meio termo entre calado e estabilidade estática. É indicada para veleiros de navegação costeira que vão navegar também em águas rasas. Dependendo do tamanho, podem ser rebocados ou puxados para fora da água com mais facilidade. Podem ser ancorados mais próximos da margem. Quilhas de patilhão são hidrodinamicamente menos eficientes que quilhas comuns ou bolinas, e geram mais arrasto. Algumas são equipadas com bolinas retráteis dentro delas, para melhorar sua eficiência, como o O’Day 23.
  • Bolina retrátil: é ideal para barcos de navegação costeira ou de águas interiores, especialmente monotipos e barcos que serão rebocados com frequência. Bolinas são muito eficientes, e geram o menor arrasto para uma mesma sustentação (lift, a força que impede que os barcos derivem lateralmente). Não tem função de estabilidade estática, assim sendo são apropriadas para cascos com elevada estabilidade de desenho ou lastro interno.

E qual a melhor? Isto depende de onde você vai navegar, e, é claro, do projeto de seu barco. Muitas pessoas tem a ideia errônea de que um barco de quilha fixa é inerentemente mais seguro do que um barco de bolina retrátil. Isto não é verdade. A segurança depende de uma série de fatores que incluem não apenas a embarcação em si, como também as atitudes da tripulação. Catboats, por exemplo, são barcos com grande estabilidade estática, que usam bolina retrátil. São ideais para navegação costeira, tem ótimo desempenho e muito espaço interno por conta da boca. O Peregrino 190, por exemplo, é um excelente veleiro para navegação costeira, podendo atingir 7 nós em ventos de popa ou alheta, e ainda pode velejar em profundidades de 45cm! Sua boca permite que ele abrigue um banheiro fechado, cozinha e acomodações para pernoite de 3 pessoas, dentro da cabine. O cockpit, por outro lado, comporta 7 adultos com muito conforto. Mais uma evidência das vantages de se ter um desenho apropriado para o tipo de navegação que se vai efetivamente fazer. Um veleiro oceânico com quilha fixa que é usado como veleiro de fim de semana, em velejadas próximas à costa, pode muitas vezes representar uma relação custo-benefício ruim, pois a manutenção de um barco guardado numa poita, e os riscos que isto oferece, nem sempre são compensadas pelo seu uso.

Mas como fazer para saber qual o veleiro ideal? No dia 23 de fevereiro de 2023 o Madeira Mar Estaleiro Escola fará um Podcast com a participação do projetista Gustavo Dantas e com Antônio Lucas Pires, empresário, velejador, construtor de barcos, e que está apadrinhando um projeto de veleiro oceânico de características únicas, a começar pelo seu tamanho e plano vélico. Assista em nosso canal: https://youtube.com/live/QhGfSKbCEqQ.

Se você quer se aprofundar e saber como escolher o barco certo para você, é fundamental entender como veleiros são projetados, para então ser capaz de avaliar cada barco do ponto de vista técnico. Assim você vai fazer escolhas melhores e racionais, e terá um barco que lhe dará mais alegrias do que dores de cabeça. Faça nosso Curso de Projetos de Barcos. Teremos uma edição presencial dias 4 e 5 de março de 2023 na Grande Florianópolis. Ou faça o Curso Online de Projeto de Barcos!

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4 comentários

  1. Dario Caiçara disse:

    Moro na floresta e frequentemente não tenho internet praver ao vivo, então comento já que construir um barco é um projeto futuro ainda um pouco longínquo, e quero em breve comprar um veleiro de cerca de vinte e poucos pés com banheiro e motor de centro que possa navegar em águas rasas aqui na baía de guaraqueçaba e antonina e subir por um rio com pedras e encalhar na areia. Pensei em um oday 23 ou Brasília 24, mas vi com interesse projetos diferentes de veleiros com partilhão duplo. se puderem tecer considerações agradeço desde já! Bravo Zulu!

  2. José Luiz dos Santos Azevedo disse:

    Tenho um veleiro BRM-18 antigo com duas bolinas no fundo de cada bordo, se eu fizer um adaptação e colocar somente uma no central vai ficar bom? Obrigado

    • madeiramar disse:

      José, mudar para uma quilha central não vai melhorar a estabilidade de seu veleiro. Além disso ele não tem uma estrutura para afixação de uma quilha central. Por isso esta modificação não deve ser feita.

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