A vela “junk” chinesa em barcos modernos

A vela “junk” chinesa em barcos modernos

Ela é muito rara, mas aqueles que armam seus barcos com estas velas sáo ardorosos defensores de suas qualidades. Estamos falando da armação “junk”, a armação que usa as velas chinesas tradicionais.

O nome “junk rig”, ou traduzido literalmente, armação junco, deve seu nome a uma pronúncia errada de palavras que designavam os navios do oriente. Supõe-se que venha do malaio “jukong”, que significa navio, ou de outras palavras de pronúncia similar de línguas do sudeste asiático. O nome chegu ao ocidente através dos navegadores portugueses no século XVI. Este tipo de vela pode ser classificada como uma carangueja do tipo balanced lug, com a vela estendida entre uma verga e uma retranca apoiadas lateralmente no mastro, com parte da área vélica à frente do mastro. Mas as semelhanças param por aí.

veleiro tradicional chinés com 3 mastros

A vela Junco tem duas grandes particularidades que tornaram os navios chineses tão eficientes. A primeira são as talas, que correm toda a corda da vela, espaçadas regularmente ao longo de toda a sua altura. A segunda é o sistema complexo de escotas, que conectam todas as talas a uma escota principal.

O sistema é complexo, e tem peso bastante elevado, especialmente em barcos grandes, Entretanto, é um dos mais simples de operar em solitário, e certamente o mais fácil de rizar. O sistema de escotas tem uma vantagem que não é encontrada em nenhuma vela ocidental: é possível controlar a torção da vela, ajustando o ângulo de ataque da parte superior da vela, onde o vento é mais forte, para obter o melhor rendimento em orça e través. No popa e través, como outras velas quadrangulares, são excelentes.

Sequência de imagens mostfando como a vela é rizada

A vela pode ser rizada sem necessidade de aproar no vento. É possível rizar durante a navegação, com a embarcação em movimento. A operação pode ser feita do cockpit por uma pessoa, mesmo em velas grandes. Outra vantagem é que as tensões no pano da vela são distribuídas pelas talas, assim a vela não tem pontos de concentração extrema de esforços, como acontece nos punhos das velas ocidentais. Assim, as velas podem ser feitas de panos mais leves, duram mais, e mantém o barco navegando mesmo que rasguem em algum ponto, já que os painéis entre as talas funcionam independentemente.

Um veleiro de 19 pés com vela Junk, para construção em compensado naval costure-e-cole.

O camber da vela chinesa é dado pela curvatura das talas, e por isso a vela é fabricada a partir de uma peça plana. Para construtores amadores é uma boa notícia, já que é possível fazer velas de lonaleve plana com muito mais facilidade. Os mastros, em geral, são autoportantes, sem estaiamento e por isso são cônicos. Podem ser feitos de madeira ou aço. Por não ter estaiamento, a mastreação em geral é muito reforçada se comparada a um barco armado com um sistema Marconi.

Embora sua construção seja complexa, uma vez armada, a armação ‘junco” é incrivelmente eficiente e fácil de controlar, e é uma escolha natural para embarcações de cruzeiro oceânico com tripulação mínima (uma ou duas pessoas). Por causa destas qualidades, esta armação é proposta em dois barcos do Madeira Mar Estaleiro Escola, que em breve estarão em nosso catálogo online.

As qualidades destas velas atravessaram mais de 500 anos praticamente sem alterações. Ainda são fabricadas da maneira tradicional no sudeste asiático, e com materiais modernos em barcos do ocidente. Um dos barcos mais icônicos é o Jester, de Blondie Hasler, um Folkboat de 8m, que fez a primeira regata transatlântica em solitário, em 1960. Desde então a vela ganhou adeptos por todo o mundo, e agora chega ao Brasil. Como outros projetos nossos, que trazem de volta planos vélicos tradicionais usando materiais acessíveis e construção artesanal, a vela Junco oferece a possibilidade do construtor artesanal armar sua embarcação, do mastro às velas, com muita eficiência.

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